Não podemos iniciar o surgimento do feudalismo sem considerarmos os fatores que levou a sociedade européia a se organizar política, social e economicamente dentro dessa estrutura chamada feudalismo, somente entendendo esses fatores dentro de seu contexto é que podemos trabalhar com segurança e profundidade o surgimento, instalação e crise dentro do feudalismo.
Surgimento do feudalismo:
O Império Romano a partir do século II entrou em um período de crise e começaram a se dissolver toda a sua estrutura econômica, cultural, política e social, vários fatores contribuíram para que o Império Romano amargasse um período de derrotas e perdas territoriais e comerciais até que no século V viesse finalmente a dar lugar a uma nova estrutura.
O império romano depois de séculos de guerras de pilhagem e de expansão territoriais, chegando a dominar toda a Europa e parte de África, além de manter uma estrutura política onde o imperador (César) era a clamado como um deus, uma cultura em muito herdada dos gregos mais extremamente contextualizada e aplicada de maneira rica a sua sociedade, Roma entra em colapso, sua estrutura já não estava tão firme, o que parecia indestrutível agora mostra fraqueza e fragilidade.
Talvez o primeiro fator que podemos trabalhar é o conjunto de setores co - dependentes onde se apoiava o domínio romano, pois por ser uma estrutura firmada em dois pontos fixos, sendo elas as guerras de pilhagem e a mão – de – obra escrava.
Durante muitos séculos Roma garantiu a sua riqueza pelo seu sucesso militar, pois conquistar novos territórios rendia ao império resultados astronômicos, pois conseguiam novas terras, onde poderiam ser usada para a plantação, desenvolvendo a agricultura e para criar caminhos para conquistar povos vizinhos e para expandir o comércio, além do mais ao conquistar novas terras o novo império taxavam impostos e confiscavam bens que empobreciam os conquistados e impunham o poder político, religioso e cultural dos romanos, assim garantiam a manutenção da riqueza com a conquista de metais preciosos, alimentos e acima de tudo com a domínio do homem, pois através da escravidão os romanos garantiam uma mão – de – obra barata e assim conseguiam aumentar poder do império e conquistar novas terras.
Mas, com o crescimento gigantesco do império os problemas começaram a aparecer, pois se tornava dificultoso governar todos essas terras, mesmo tendo estradas e caminhos de boa qualidade e considerados rápidos para os padrões da época, as informações eram lentas e muitas vezes ordens de César ou leis demoravam a ser aplicados ou perdiam o sentido antes de chegar a todo o império, mesmo tendo em alguns momentos da história o uso do diunvirato ou triunvirato esse sistema se mostrava ineficaz.
Outro fator se dava a necessidade do contingente militar, pois a cada dia o império necessitava de mais homens e mais guerras para mante – los ágeis e longe do ócio, como o império não possuía todo este contingente a disposição foi necessário acordos diplomáticos com os bárbaros (todos aqueles que não eram cidadãos romanos ou que não falavam o latim), estes que muitas vezes viviam na fronteira ou em terras romanas foram chamados federados, ou seja, ganhavam o direito de viver na terra, cultiva – La, mas para isto tinham que defende – La, além de ganharem a cidadania romana.
Com esses fatores em ação – extensão do império, dificuldade de governo, o fim das guerras de pilhagem e falta de contingente militar gerou um processo em cadeia sendo eles:
Crise militar, pois vários comandantes achavam que podiam se tornar imperadores e voltavam – se contra seu próprio império, os bárbaros não ficaram quietos, já que também investiram contra César, grandes guerreiros como Átila, Pirro, Arminio, Aníbal e Vercingetorix atacaram Roma até que em 476 os Hérulos liderados por Odoarco depuseram Rômulo Augusto o ultimo César, este fato determina o fim do Império Romano do Oriente já que o Império do ocidente (Bizantino) continuou existindo até o século até 1453 quando aconteceu a queda de Constantinopla pelo Império otomano.
Com o império extenso, já não havia terras a ser conquistadas, já não se conseguia novas regiões, novos campos para a plantação, não se taxava novos impostos ou se confiscava riquezas dos dominados, assim o numero de escravos diminuiu drasticamente levando ao aumento da violência nas cidades e o aumento da pobreza, com a política de “Pão e Circo”, o império garantia o alimento básico para a população, como não se tinha novas terras ou novas conquistas a cada dia necessitava – se de mais alimento, criando um déficit inflacionário, isto fez com que as pessoas migrassem para os campos, levando em longo prazo um êxodo das cidades.
Com este êxodo donos da terra iniciaram o chamado colonato onde distribuíam terras aos colonos onde estes podiam plantar devolvendo uma parte da colheita para o dono da terra, isto levou inevitavelmente a uma estruturação e reorganização social, pois este dono da terra passou a ter certos poderes, já que o poder central estava fragmentado e assim cobravam taxas e pedágios que não eram repassados para o império, além de levantar muros de proteção para se proteger dos bárbaros e para delimitar o território, aconteceu uma retração do comércio, passando a desenvolver uma economia de troca e a agricultura de subsistência, além do enrijecimento social, a defesa era feita por mercenários contratados levando a uma privatização da defesa, as guerras agora eram de menor impacto, morria – se menos pessoas e eram pela defesa do território, proteção da plantação e alimentos ou até mesmo brigas entre famílias motivadas por vingança ou resgate de parentes e familiares seqüestrados.
Em meio a este período de transição a igreja ganhava espaço e alcançava cada dia mais adeptos e parceiros, se infiltrando nos feudos ou se tornando latifundiárias e uma grande senhora feudal e em conseqüência levando a clericalização da sociedade .
Esses movimentos se tornaram mais nítidos com a ascensão do império Carolíngio onde Carlos Magno (800 d.C) levantou as estruturas para o feudalismo, Carlos valorizou o sistema de distribuição de terras, esse sistema passou a ser chamado vassalagem, onde o receptor jurava fidelidade ao rei e podiam distribuir as terras para os chamados vilões ou servos que eram trabalhadores livres, porém não assalariados, não podiam deixar a terra mais tiravam seus sustento dela. Essas terras eram hereditárias, ou seja, garantia a riqueza dessa nobreza e a perpetuação do poder.
Carlos Magno foi o primeiro imperador verdadeiramente católico, este permitiu que a igreja criasse raiz e desenvolvesse suas crenças e as implantassem na prática social, muitas vezes estas crenças já eram conhecidas das pessoas, pois a igreja usa de sincretismo para muitos casos, exemplo: uma árvore considerada sagrada, logo a igreja transformava o lugar em santuário, desenvolveu – se o culto aos santos, muito baseado no panteão Greco - romano e nórdico, as relíquia se espalharam ao ponto de se ter várias cabeças, pernas, braços do mesmo santo expostos em vários lugares, além de dezenas de graal e coroas de espinhos de Cristo.
A igreja se expandiu e era o único meio de ascensão social ou até mesmo de conhecimento, cultura e alfabetização.
Após a morte de Carlos Magno, o reino carolíngio se fragmentou e no século X estava formada a estrutura do feudalismo:
1) ruralização da sociedade
2) enrijecimento social
3) fragmentação do poder central
4) Privatização da defesa
5) Clericalização social
Do século XI ao XIII esta estrutura alcançou seu auge, pois com a ausência de doenças e epidemias comuns em alguns séculos atrás, a ausência de guerras e a melhora de condição de vida ( já que não havia mais tanta fome) embora a alimentação ainda fosse precária e deficitária, mas, as pessoas comiam e tinham onde dormir, estes fatores aliados a uma mudança climática levaram ao aumento demográfico.
A partir do século XIV iniciou – se a monetarização, pois o comércio era apenas de troca e de subsistência, mas com grandes chuvas, o desmatamento pela política de agricultura predatória e pela peste negra, os salário tinham que ser pagos em moedas isto levou a uma circulação monetária, além disso os que tinham produtos eram autorizados a comercializa – los fora dos feudos, isto levou ao enriquecimento e o surgimento da chamada burguesia.
A nacionalização e o absolutismo começavam a ganhar forma, agora já se tinha uma mente nacionalizada, idiomas, gramáticas e culturas regionalizadas e peculiares além do fortalecimento do poder do rei, que apoiado por esta burguesia tem o domínio do estado em suas mãos e inicia assim a tentativa de subjugar ou se unir a outros. Com isto os feudos rurais, com a mão- de - obra de subsistência e atraso nas técnica agrárias dá lugar as cidades, urbanizadas, organizadas e que buscavam agora o comercio com outras nações. O nacionalismo e o prestigio monárquico ganhavam espaço.
Assim, criou – se a necessidade de conquista e domínios onde se poderiam extrair riquezas inicia – se as cruzadas que visavam à conquista da Terra Santa, iniciando uma verdadeira guerra contra o império otomano que acabara vencendo e garantindo o domínio do ocidente, mas o comercio com o oriente rendeu muitas riquezas principalmente para Genova e Veneza cidades de traziam e distribuíam as especiarias orientais como gengibre, nos moscada, pimenta, canela etc. que serviam para melhorar o sabor dos alimentos e preserva – los, além dos tecidos e outras matérias primas muito valorizadas pela aristocracia ocidental.
Quando os turcos fecharam o mediterrâneo levou a busca por uma nova rota comercial para as Índias dando inicio ao período de grande navegações, abrindo o caminho para a modernidade e o mercantilizarão e a busca pelo capital
Em 1517 o monge Martinho Lutero inicia a reforma protestante isto abala a estrutura e domínio da igreja, já que também condados inteiros e parte da burguesia apóiam a reforma que criticava entre outras coisas a salvação pelas indulgencias e o domínio da igreja romana, o culto aos santos e a submissão papal.
O iluminismo e grandes pensadores como Maquiavel, René Descertes, Hobles, Erasmo de Roterdam e outros, trazem a tona a idéia do conhecimento para todo o homem, o colocando no centro da razão, agora não mais Deus (igreja), mais o próprio homem pode pensar e decidir segundo sua própria razão.
Estes fatores unidos contribuíram para a transição do feudalismo para o absolutismo a partir do século XV, abrindo o caminho para a chamada modernidade.
Bibliografia:
BASCHET, Jerônimo; A civilização feudal, do ano mil à colonização da América; Ed. Globo, 2006.
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