Os valores que impulsionam e alimentam o projeto de poder americano
remontam à fundação da América, seu descobrimento e mesmo ao impulso messiânico
e missionário que marcou a Europa nos séculos XV e XVI. Como um sistema da
cultura, o messianismo foi construído ao longo dos séculos, pelo encadeamento de
textos históricos, nos quais se reproduz o mito na nação eleita e da restauração do
paraíso na Terra.
A despeito de toda a mística envolvendo a descoberta de Colombo, o “novo
mundo” não foi colonizado até o início do século XVII. Mas com a intensificação do
êxodo rural na Inglaterra no século XVI, enchendo as cidades de gente sem recursos e
sem instrução, essa colonização estava a caminho. “A idéia de uma terra fértil e
abundante, um mundo imenso e a possibilidade de enriquecer a todos era um poderoso
ímã sobre essas massas” (KARNAL, 2005, p. 35). Houve um grupo de colonos
interessados em deixar a Europa em busca de uma terra de sonhos, os quais a
memória histórica consagrou como “os peregrinos” (
era uma realidade constante na Inglaterra nos séculos XVI e XVII, o que impulsionou
muitas levas de religiosos protestantes para o novo mundo. Um desses grupos chegou
a Massachussetts em 1620, liderados por John Robinson, William Brewster e William
Bradfort, religiosos de formação escolar desenvolvida. Em 21 de novembro desse
pilgrims). A perseguição religiosamesmo ano, eles firmaram o chamado “Mayflower compact”, em homenagem ao navio
que os trouxe do velho mundo, o
iguais”.
Além do êxodo rural britânico, outro fator que impulsionou a colonização do novo
mundo, no século XVII, foi a publicação de uma pequena obra chamada
em 1626, de Francis Bacon (1999), que dá eco aos valores e à visão de Colombo
acerca do novo mundo. Trata-se de uma ficção, com diversas referências aos
evangelhos e com forte linguagem escatológica. Bacon descreve uma sociedade
secreta chamada “Casa de Salomão”, ideal e científica. Os personagens de sua história
chegam à Atlântida e se dedicam a um rito iniciático de “purificação de três dias”, alusão
à morte e ressurreição de Cristo. Em terra, os visitantes da Atlântida declaram: “Deus,
seguramente, está presente nesta terra” (1999, p. 227).
A crença de um novo mundo, abençoado por Deus, alimentou os sonhos e as
fantasias messiânicas dos colonizadores da América e mesmo dos iluministas. Os
primeiros colonizadores a chegar a essa terra “se consideravam predestinados e tinham
a Europa como excessivamente decadente para o triunfo da Reforma. Era preciso
alcançar um novo mundo e fazer tabula rasa”. Esses “pais peregrinos” considerados os
fundadores dos Estados Unidos levaram com eles a imprensa e o puritanismo (MILÀ,
2004, p. 8). O renomado historiador americano Robert R. Palmer afirma que, ao nascer,
os Estados Unidos da América eram a grande esperança dos europeus iluministas, que
haviam perdido a esperança no próprio continente e consideravam a América o único
local “onde a razão e a humanidade poderiam desenvolver-se com mais rapidez do que
em qualquer outro lugar” (PALMER, 1959, p. 242).
DORNELES, Vanderlei.
um sistema da Cultura. Disponível em:
<http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2007/resumos/R1316-2.pdf>. Acesso em:
27 jun. 2008.
Mayflower, comprometendo-se a seguir “leis justas eNova Atlântida,A nação eleita: a ideologia do messianismo americano como
Nenhum comentário:
Postar um comentário